ANA ON
Acordei com o sol batendo em meu rosto, porque tínhamos esquecido de
fechar a cortina na noite anterior. Luan estava ao meu lado. Com a cara
amassada, mas continuava lindo, continuava meu.
Olhei ao meu redor e tudo realmente parecia um sonho. Mas, e quando
tivéssemos que ir embora? Era nosso terceiro de sete dias. Mas e depois? “Viva
o momento.” Minha mente pedia. Estava na hora de parar de ser tão racional.
Levantei e fiz minhas higienes. Quando abri a geladeira, encarei duas
coisas: uma barra grande de chocolate meio amargo e uma caixa de creme de
leite. Pensei que gosto teria, peguei e coloquei em cima do balcão. Abri a
caixa e comecei a mergulhar o chocolate lá dentro e depois comer. Aquilo
parecia o céu de tão bom. Quando o chocolate acabou, peguei uma colher e
comecei a comer o creme de leite.
-Ana?
Olhei pro Luan e para o que eu estava fazendo. E então eu me lembrei: eu
odiava creme de leite, aquilo me deixava com um gosto horrível na boca. Meu estômago
revirou. Sabendo o que viria a seguir, larguei a colher e comecei a corri para
o banheiro pra chegar a tempo de vomitar no lugar certo.
-Amor, cê tá bem?
-Vou ficar.
Escovei os dentes umas três vezes e voltamos pra cozinha.
-Não era você que odiava creme de leite?
-Ainda odeio.
ANA OFF/LUAN ON
Ana parou de falar e foi para o calendário da cozinha.
-Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito.
-Oito o que?
-Oito dias. Tô atrasada oito dias.
-Atrasada?
-É. Nunca atrasou depois do primeiro ano.
-Será que o atraso, vontade de comer o que não gosta... Amor, será que você
tá grávida?
-Grávida? Não. Eu tomo as pílulas todos os dias.
-Mas não é 100% confiável.
Ela se sentou na banqueta da cozinha, com a mão sobre a barriga.
-Um bebê? Agora? Não sei se eu...
-Pode ser bom.
-Bom como? Tanta coisa
acontecendo ao mesmo tempo, e agora... –ela se levantou e saiu.
-Onde cê vai?
-Preciso ficar sozinha.
LUAN OFF/ANA ON
Me sentei na areia. As ondas vinham, batiam nos meus pés e voltavam.
Não podia ser mãe naquela hora, eu não estava emocionalmente preparada
pra isso. Pensei que quando descobrisse uma gravidez, quisesse soltar fogos de
artifício. Mas eu não queria, estava sendo totalmente o contrário do que eu
esperava. Depois de alguns minutos chorando sozinha, Luan sentou atrás de mim e
me abraçou.
-Não fica assim. Se você estiver grávida, a gente vai cuidar dele ou
dela juntos. A gente não combinou de ter uma creche?
-Seria... uma injustiça.
-Injustiça? Com quem?
-A Ester tenta engravidar a anos. A gente nem planejou e...
-A gente. Pensa só na gente.
-É que não tem como! –fiquei em silencio por alguns minutos- Eu enviei
um e-mail pro Marcelo.
-Ana...
-Isso tem a ver com nós dois. Eu não ficaria bem com essa dúvida de se
ele tava achando que eu sou uma idiota.
-O que importa agora? Ele é seu ex, não é? Ex!
-Além de namorados, a gente era muito amigo também. E nossa amizade
acabou de um jeito que eu não queria. – Ele se levantou.
-Eu não sou seu amigo? Não sou bom o bastante pra substituir o cara de
te deixou por sei lá quanto?
-Luan, não é isso! –me levantei também- Eu tinha que falar com ele. Ele
foi... especial.
-Tao especial que deixou você sozinha.
Ele entrou e eu continuei na praia. Ficamos até o fim da tarde sem se
falar direito.
-Luan, não faz assim.
-Você tinha que me falar antes.
-Desculpa. Eu sei que devia, mas não me ignora assim. Foi só
curiosidade, eu só quero saber porque ele fez isso. Mas vou esquecer. Tá bem? –ele
continuou calado- Luan, a gente tá desconfiando que eu tô grávida, a gente
devia tá junto, feliz... Não assim.
-Tudo bem. Me desculpa.
-Vamos esquecer isso. Tá bom? Nada vai atrapalhar.
-Nada. Nunca mais.
-Nunca mais. –sorrimos.
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