Concordei
em passar um tempo com o Luan em sua chácara enquanto não prendiam a Bianca. A
Isa foi pra casa e me deixaram ir à minha por alguns minutos, só pra pegar
algumas coisas minhas. Olhei pela janela do quarto e vi várias viaturas na
frente da minha casa. Fechei a cortina e
abracei o Luan.
-Tô com
medo. Muito medo.
-Ela não
vai saber aonde a gente vai amor, calma. E vai polícia atrás da gente, vamos
estar seguros. Confia em Deus. Ele sabe o que faz. –Luan me abraçou e beijou
minha testa. Ele sabia que aquilo me acalmava.
-Prontos? –o
Pedro entrou no quarto e pegou minha mala.
-Deixa que
eu levo. –Luan disse.
Descemos.
Levariam alguns dias no máximo pra que a polícia conseguisse achar a Bianca. Ao
menos algum tempo de vida normal de volta. Sem ter que ficar sendo observado
por policiais, sem shows sendo cancelados ou processos indo pra outros
escritórios. E com a esperança de que a cadeia a mudasse para melhor, não para
pior como muitas vezes já tinha visto acontecer.
Colocamos
minhas coisas no carro do Luan.
-Tchau Pedrinho.
-Tchau Ana
Meleca.
-Afe!
-O que? –Luan
riu.
-O apelido
dela de criança.
-Mas agora
não tem mais graça.
-Tem... –Pedro
fixou o olhar atrás de mim. Quando virei pra olhar, tiros ecoaram no ar. Pedro
me jogou no chão e Luan se jogou por cima de mim. Fiquei paralisada, não acreditava
no que acontecia naquele momento.
-Tudo bem?
–a voz conhecida do mesmo policial (o qual eu descobri que se chamava Ferreira)
chamou perto de nós. Luan se levantou.
-Amor? –estava
ali fisicamente, mas na minha mente tinha um branco, como se não tivesse vivido
nada antes daquele momento ou pretendesse viver depois. Apertei os olhos e me
sentei no chão. Pedro. Girei minha cabeça a procura dele quando não achei me
levantei.
-Pedro. –eu
sussurrava. Policiais o colocaram em uma das viaturas, ensanguentado.
-Meu Deus,
Pedro! –corri e entrei. Sentei perto dele.
-Te amo
Ana. Nunca deixei de te amar. Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você. –ele
tentou cantar.
-Então vai
lembrar por muito tempo.
-Não. –ele
disse com dificuldade- Se lembra de mim pra sempre tá? Seja feliz.
-Pedro,
não fala assim.
-Ainda
lembro do nosso beijo. –ele riu- A gente saiu correndo... E a Ester foi falar
com teu pai...
-A gente
ainda vai ter muita coisa pra lembrar. –enxuguei minhas lágrimas de sua testa.
-Precisamos
ir logo. –disse um dos policiais.
-Eu vou
junto. –entrei na viatura. Os policiais entraram, ligaram o giro flahs e íamos
em alta velocidade pro hospital mais próximo.
-Eu te
amo. Nunca esquece.
-Eu te
amo. Muito. Você é o melhor amigo que eu tive na vida.
-Você sabe
que não é desse jeito. Mas eu já me acostumei. Seja feliz. –ele sussurrou e
suspirou pela última vez no momento em que chegamos ao Hospital. Não sei de
onde tirei forças, mas enxuguei uma lágrima que escorreu de seu rosto. Abriram
a porta.
-Não
precisa mais. –disse com a voz fraca.
“Enquanto
houver você do outro lado
Aqui
do outro eu consigo me orientar
A
cena repete a cena se inverte
Enchendo
a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar
Tua
palavra, tua história
Tua
verdade fazendo escola
E
tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Metade
de mim
Agora
é assim
De
um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do
outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E
o fim é belo incerto... Depende de como você vê
O
novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só
enquanto eu respirar
Vou
me lembrar de você
Só
enquanto eu respirar...”
Cantei sua
música preferida. Devagar, soluçando, baixo. Havia perdido meu melhor amigo. O
que havia de fazer naquela hora?
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