Noventa e Três



LUAN ON
A nossa lua de mel foram os dias mais perfeitos de nossas vidas. O olho da Ana não parava de brilhar, e Veneza pareceu pequena pra nós dois. Mas quando voltamos ao Brasil, tudo começou a se inverter. Ana correu pra fazer os exames e descobrimos que a gravidez dela era de risco. Não para o bebê, mas sim para ela. Era quase o mesmo motivo da irmã dela, Ester, não conseguir engravidar, com a diferença que o corpo da Ana não rejeitava a criança. Ela nunca descobriu isso porque nunca tentou engravidar. A possibilidade de perdê-la me abalou mas eu fazia de tudo para ser forte por ela. Ela também ficou abalada, mas fazia de tudo para parecer forte, sempre dizendo aos outros que ia ficar tudo bem com os dois.
Os sete meses que se seguiram foram difíceis. Os mudamos para uma casa em Londrina assim que casamos, mas quando eu ia fazer show, ela então ficava na casa de meus pais. Descobrimos que seria uma menina, e enquanto ela queria o nome Elen eu tentava convence-la com Nicole. Certo dia encontrei ela no quarto do bebê, chorando enquanto via algumas coisas que ganhamos. Quando ela me viu na porta, levantou os olhos rapidamente e depois abaixou a cabeça, enxugando as lágrimas.
-Vai ficar tudo bem. –tentei acalmá-la
-Eu tô com medo. Não quero ficar sem você...
-Porque você tá falando isso?
-O sonho... Eu tô sonhando a mesma coisa faz meses.
-Você quer contar?
-Não. Só quero que você me abrace.
Ficamos por alguns instantes ali abraçados até que a Ana resolveu se deitar um pouco.

No oitavo mês de gestação dela, eu dei um tempo nos shows. Foi um mês difícil. Ela estava sempre fraca e chorando escondido. À noite demorava muito pra dormir, com medo de um pesadelo constante, que ela me contou que era como se eu e a nossa filha a ignorássemos como se vez alguma ela tivesse existido.
Alguns dias antes de completar os nove meses, Ana insistiu que eu a  levasse numa pequena comemoração de boas-vindas a Paulo, filho de Ester e Maurício.
-Lu, vem no banheiro comigo?
-Vamo. –acompanhei ela até a porta. Depois de alguns segundos, ouvi a Ana gritar. Bati na porta.
-Ana, o que aconteceu? Ana!
Alguns segundos depois, ela abriu a porta.
-Me leva pra maternidade. Agora! –tinha sangue em suas roupas. Não era pra ter sangue, tinha alguma coisa errada.
Seu pai dirigiu, e nós dois ficamos no banco de trás do carro. A Ana gemia de dor e suava muito.
-Rápido pai, a minha filha... ai!
-Calma meu amor, vai dar tudo certo. –não sei se foram as palavras certas, porque ela começou a chorar.
-Se te perguntarem qualquer coisa... Salva minha filha, tá bom? Me promete que vai falar pra eles...
-Vocês duas vão estar logo logo em casa.
-Me promete...
-Prometo, prometo o que você quiser. Você vai ficar bem, e ela também.
Tiraram ela do carro e puseram numa maca.
-Não me deixa. –ela me pediu.
-Nunca. Eu nunca vou te deixar.
A empurravam em direção ao centro cirúrgico, e eu sabia que não poderia entrar.
-A gente vai se ver daqui a pouco, tá bem? –ela fez que não com a cabeça- Vai ficar tudo bem, eu prometo. Eu te amo. –a porta se abriu e eles a levaram pra dentro.
-Eu te amo. –a Ana respondeu antes de a porta se fechar.

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