Tinha algumas semanas que eu não via o Luan. Faltavam
alguns dias para o casamento, eu estava ansiosa para a cerimônia, e também para
a lua-de-mel. Eu já sabia que aquela rotina louca ia ficar do mesmo jeito
quando casássemos então eu aproveitaria Veneza ao máximo. Às sete da manhã
daquele dia, eu abri a porta para ir ao escritório. E então vi o Marcelo
encostado no meu carro com um buquê de flores na mão. Hesitei um pouco antes de
sair. Se ele tentasse falar comigo, eu diria tudo o que estava entalado em
minha garganta, só esperando vê-lo para sair. Desde o meu aniversário
desastroso, ele não foi atrás de mim. Achei que tivesse sumido de novo, afinal
era sua especialidade, mas não foi o que aconteceu.
Desliguei o alarme do carro com a esperança de que ele
saísse da porta.
-Oi Ana.
-Dá licença?
-A gente nem teve tempo de conversar ainda. Eu preciso
conversar com você. –ele saiu da porta.
-Porque você voltou?
-Porque você me procurou. –fiquei sem palavras para
responder.
-Eu só... Me senti na... não sei, acho que... obrigação
de te falar o que aconteceu.
-Não casa com ele.
-Marcelo, o Luan é... meu melhor amigo, meu amor, a minha
companhia mesmo que às vezes de longe. Eu estava acabada. Eu não acreditava
mais em nada, ficava chorando toda noite, e quando alguém me dizia alguma coisa,
eu sempre repetia que você me amava e que iria voltar.
-Eu te amo.
-Eu te amei.
Abri a porta do carro alguns segundos depois enquanto ele
ainda me olhava, incrédulo. Era certo falar aquilo? Eu certamente havia magoado
ele e... Não. Aquilo não era nem um terço do que eu imaginava que havia
acontecido com ele. E eu sentia que de certa forma, ele jamais sofreria tanto
quanto eu.
Quando cheguei na minha sala, o que vi foi no mínimo,
inesperado. Guilherme estava lá com uma
garrafa de champanhe e duas taças.
-Eu disse que um dia traria champanhe.
-Guilherme! –rimos.
-Não se preocupa que ninguém me viu entrar com isso. Eu
sei que estamos em horário de trabalho, mas temos que fazer o nosso brinde à
noiva mais linda do mundo.
-Você não falou a mesma coisa pra Ester, falou?
-Não, o título dela é o de noiva mais linda do Brasil.
–dei um tapinha no braço dele. Ele colocou um pouco de champanhe nas taças- Ao
casamento mais comentado do último mês. Que nada abale esse amor tão lindo, que
esse casamento dure muito e que eu seja convidado pra ser padrinho do seu
primeiro filho. –erguemos as taças e tomamos um único gole.
-Obrigada! –eu disse feliz.
-E a despedida de solteira? Vai rolar né?
-Não, não. –eu ri- Eu e Luan combinamos e nada de beber
até nem se lembrar do nome, nem de dança sensual nem loucura alguma. O máximo
que eu vou fazer é jogar videogame até amanhecer.
-Nada de sono de beleza?
-Tô dormindo até demais por esses dias, sabia? Amanhã vai
ser a última prova do vestido. Quer ir?
-Tô louco pra ver, é claro que eu vou.
-A Bruna e a Isa também vão estar lá.
-Elas vão ser as madrinhas?
-Sim, junto com o Roberto e com um amigo do Luan.
Naquele dia, ao sair do escritório, eu planejava dormir
do primeiro segundo ao último que eu tivesse direito.
Quando cheguei em casa, antes mesmo de sair do carro,
pedi a Deus pra que guiasse minhas palavras. O Marcelo ainda estava lá. Sentado
na frente da porta da minha casa.
-Você tá aí desde que eu saí?
-Ana! -ele se
levantou e se ajeitou.
-Porque você fez isso?
-Eu não ia conseguir sair daqui sem te pedir desculpas.
Eu.. pensei e... Te magoei, é verdade. E depois do que você me falou, ficou
claro que eu te magoei demais.
-Eu fui muito grossa.
-Não, você tava certa. Eu devia ter vindo conversar na
boa, não praticamente declarar guerra ao seu noivo e depois sumir de novo.
-Sumir e aparecer em horas inesperadas é a sua
especialidade.
-Infelizmente.
-Vai pra casa. Devem estar preocupados contigo.
-Não antes de você me desculpar. Eu liguei pro Maurício
e... Eu não sabia que tinha feito você sofrer tanto.
-As coisas acontecem quando tem que acontecer. Talvez se
você não voltasse agora, poderia voltar depois, e num momento pior. Se eu já não
tava preparada agora, quem sabe como estaria depois... Você tentou. Você pelo
menos tentou. Eu nem isso fiz.
-Acho que posso considerar isso como perdão. –fiz que sim
com a cabeça.
-Se você quiser. Volta pro teu sonho. O mundo tá te
esperando lá fora.
-Acho que isso é uma despedida. Talvez... A que a gente não
teve.
Ele foi andando na direção de um carro preto que devia
ser dele. Antes de sair, ele me deu um tchauzinho.
Agora sim eu me sentia completamente livre. Livre pra
viver a minha vida. Eu tinha um coração leve, que só esperava uma coisa: ser
feliz com o amor da minha vida. E o amor da minha vida se chamava Luan Rafael
Domingos Santana.
continua nega
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