Oitenta e Oito


Quando voltei pra perto do Luan, o show já estava no meio. Ele estava com a cara meio fechada.
-O que foi?
-Nada, só tô um pouco cansado.
Tentei desfazer aquela cara emburrada de todas as formas, mas o mínimo que ele fazia era dar um sorriso sem graça e voltar a fechar a cara. “Desisto” pensei comigo mesma.  Quase no fim do show, a Isa me chamou pra uma sala que ficava na área restrita. Estávamos eu, ela e o Roberto. A irmã do Pedro tinha ido embora logo depois que começou o show. Quando chegamos lá, o Roberto tirou um champanhe do frigobar e três taças.
-Eu quero propor um brinde. Um brinde ao nosso primeiro, de muitos anos de sucesso e principalmente ao nosso amigo Pedro, que nos incentivou dando um chute inicial nesse que virou nosso sonho. Sem esquecer a nossa querida Ana Maria que de uns tempos pra cá, está procurando sempre os melhores artistas para nossos shows e organizou essa festa maravilhosa; e nem da Isabela, que cuida de toda parte digamos que.. chata de se ter uma casa de shows. –ele disse.
-Afinal, os funcionários tem que ser pagos, e a casa tem que ser limpa! –ela disse e riu- Mas também não podemos esquecer o nosso primeiro e mais importante patrocinador! Se não fosse o patrocínio da sua empresa, esse sonho demoraria muito mais para ser realizado.
-Então... Anos. –eu disse- Cada um de nós, que trabalhou para hoje termos uma casa de shows reconhecida. Um brinde a nós!
-A nós! –erguemos as taças.

Quando saímos de lá, as pessoas tinham começado a paga a comanda e sair, já que o show já tinha terminado. Fiquei conversando com a Bruna enquanto o Luan parecia distraído (na verdade, mais irritado. O que eu tinha feito?) até a maioria dos clientes saírem.
Depois, eu fui até o camarim da dupla Munhoz e Mariano, que tinha feito o show daquele dia.
-Oiii!
-Oi Ana! E aí, curtiu o show? –o Mariano perguntou.
-Amei! Vocês tem que vir aqui mais vezes, o público adorou!
-Só chamar que a gente vem. Estamos às suas ordens. –o Munhoz brincou.
-Olha que eu vou cobrar. –eu disse.
-Vamos tirar uma foto pro Instagram?
-Opa, vamos! –topei na hora. Eu fiquei no meio deles dois, o Mariano colocou a mão em minha cintura e um dos músicos tirou a foto.
-Olha, tenho que ir, mas qualquer coisa é só falar com o pessoal que tudo se ajeita..
-Tá bom Aninha, brigado viu?
-Que isso, obrigado vocês.
Fale com o empresário dele, com algumas pessoas da banda e depois procurei o DJ que havia “esquentado” a galera antes do show deles, mas ele já tinha ido embora. Então eu me despedi de Isa e Roberto e eu, Luan e Bruna fomos pra minha casa.
Bruna foi direto pro quarto. A Lívia estava na casa de nossos pais. Então eu e Luan fomos pro quarto. Eu tomei banho primeiro. Quando saí, Luan estava mexendo no celular impaciente.
-Tá bom Luan, o que foi que aconteceu?
-Pensei que hoje fosse uma data importante pra você.
-E é. Pra nós dois.
-Não pareceu. Você ficou comigo por meia hora e depois foi tirar foto agarrada com o Mariano.
-Luan, eu não tirei foto agarrada com ninguém. E hoje foi um dia difícil, eu não consegui ficar em um lugar só.
-Hoje? Toda vez que a gente sai eu torço pra não ser lá, porque você some.
-Eu tenho que falar com os artistas, com a produção deles, ver se tá tudo certo... Já não basto os dias que eu falto!
-Você podia pelo menos tentar ficar comigo.
-Ah tá. Me desculpa se eu não tô te dando atenção o suficiente -ele se levantou e foi pro banho. Eu coloquei um blusão de moletom que eu tinha e me cobri da cabeça aos pés, deitada virada pra ponta da cama. Fui ver a tal foto. Não tinha nada de agarração ali, Luan enxergava coisa demais onde não tinha. Na legenda: “Noite maravilhosa em Curitiba. Valeu Aninha e Cia pela recepção.” A maioria dos comentários era sobre meu cabelo. Ri com alguns e decididamente ignorei outros. Comentei “Que venham outras noites maravilhosas! Hahaha” Luan saiu do banheiro. Coloquei meu celular em cima do criado mudo e me aconcheguei mais pra ponta. Ele se deitou logo atrás de mim e me abraçou.
-Não quero brigar. –ele disse no meu ouvido- Sei que é seu trabalho, e além do mais, você não reclama do meu, que a gente fica mais longe por mais tempo. Eu te amo, amor.
Me virei e fiquei de frente pra ele.
-Você se vestiu rápido. –eu disse e ele riu.
-Se você quiser eu tiro.
-Não, eu tô com sono, tô cansada. –me virei de novo- Só me abraça.
Ele me abraçou.
-Boa noite vida.
-Boa noite amor. –ficamos alguns minutos sem falar nada.
-Luan?
-O que?
-Eu te vivo.
-Também te vivo, minha deusa. –eu sorri e assim que fechei os olhos, adormeci.

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