Noventa e Cinco (ÚLTIMO CAPÍTULO)


Um mês se passou. Eu ainda não tinha pegado a Elen no colo. Era que... ela me trazia tantas lembranças, principalmente porque ela era muito parecida com a Ana. Mas eu sabia que não podia ficar distante da minha filha o tempo todo. Ela só tinha a mim. E eu não podia ignorá-la. Logo ela falaria sua primeira palavra, daria seus primeiros passos, e eu tinha que estra ao lado dela. Por ela e por mim.
Em mais uma noite de insônia, ouvi a Elen chorar. Me levantei de imediato e fui até o quarto dela. Quando a coloquei no colo, ela parou de chorar imediatamente. Estava inseguro por segurá-la pela primeira vez, e ao mesmo tempo, tão completo. Era como se eu estivesse segurando a maior preciosidade do mundo em minhas mãos. Na verdade, eu estava sim. Eu estava segurando o meu mundo. Ninei um pouco e ela voltou a dormir. Quando coloquei a Elen de volta no berço, vi que a Lívia estava parada na porta do quarto.
-Oi. –eu disse.
-Oi papai. –ela respondeu e riu baixinho- Sempre imaginei como seria quando você tivesse um filho. Ficava imaginando como seria a sua carinha olhando pra ele...
-E eu te decepcionei, não foi?
-Não. Você diz isso porque não viu a cara que fazia enquanto ninava a Elen.
Olhei pra minha filha dormindo feito um anjinho.
-Acho que a gora é a hora. –ela disse.
-Hora de que?
-De você ler uma coisa. Fica aí. –ela saiu do quarto e voltou em um instante com um envelope selado- Pra você. Boa noite. –ela saiu do quarto e eu me sentei numa poltrona no quarto da Elen. Abri o envelope e reconheci a letra da Ana.
“Eu te amo. E espero que você se lembre disso por toda a eternidade; Não sei se passamos muito ou pouco tempo juntos, mas Deus sabe o que faz. Acho que estou grávida. Logo logo eu vou ter essa confirmação. Não vou te ligar hoje, porque depois de amanhã nos casaremos, e estou planejando um momento perfeito para te contar isso.
Pra falar a verdade, estou com medo. Medo de perder você, medo de nunca mais poder ouvir sua risada, sua voz, de nunca mais sentir seu abraço, rir de suas palhaçadas...
Não sei quantos filhos temos, mas por favor ame-os em dobro. Não importa se eles são crianças ou já adultos formados, eles precisam de você agora, então por favor seja forte. E principalmente, saiba quando será a sua hora de recomeçar.
Seja feliz. Por mim.
Sou uma tola escrevendo essas palavras, porque o medo não diminui. Eu quero estar com você para sempre, além das barreias entre a vida e a morte, mais do que quero estra com qualquer outra pessoa, e sei que nem todo o tempo do mundo seria o suficiente.
Sinto-me uma boba por certas coisa, certas escolhas. Se pudesse, reviveria cada segundo que passamos, e procuraria adiar a hora da despedida.
Se alguma vez tivermos brigado sério, me desculpe. Me sinto uma idiota. Queria estar com você agora mesmo. Queria estar em seus braços, queria que você cantasse pra mim, queria apostar corrida com você na praia de novo e reviver todos os momentos mágicos que tivemos. Mas não posso, por alguma razão que talvez eu nunca entenda.
A cada segundo que você respirar, lembre-se que eu te “vivamo”. Podemos não ter tido a nossa creche ou podemos ter tido, mas nosso ou nossos filhos são a nossa continuidade, a prova do nosso amor. Eu os amo mesmo que eles nem existam ainda. Mas isso não é novidade pra mim. Eu te amava sem ao menos saber, eu te esperava sem ao menos te notar e te amarei eternamente.
Com amor,

Ana Maria.”

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