Sessenta


Cheguei na casa da Ester e a Lívia  pulou em cima de mim.
-Tava com saudades! E aí, pra onde o Luan te levou?
-Pra uma ilha. Só eu, ele e o mar. –ela sorriu. Não como antes. Aquilo era um sorriso sincero.
-E cadê ele? –a Ester perguntou.
-Ãh... Ele foi pra casa. Depois vou pra lá. Tem muita coisa pra resolver aqui.
-Menos do que podia ter. Eu dei meu jeito.
-Mana, tu não existe! –rimos.
-Ana, vem aqui no meu quarto um instante.
-Cê se mudou pra cá e não me avisou?
-Lógico que não. Só quero ter três quartos em três casas diferentes porque sou a cara da riqueza. –rimos e eu a segui pelo corredor. Era o quarto que eu e Luan tínhamos ficado depois de eu... Não, não era hora de pensar naquilo. Lívia pegou uma caixa grande de debaixo da cama e colocou em cima.
-O que é isso?
-Não sei.
O remetente era da Turquia, mas só tinha o nome de uma empresa. Fiquei com medo de abrir, mas era bobagem, eu só tinha assistido filmes americanos demais. Rasguei o papel da caixa e em seguida a abri. Um tecido grande e uma carta dobrada ao meio. Quando abri a carta, reconheci a letra e fiquei boquiaberta.
-Meu Deus!
-Vou te deixar sozinha.
Antes de ler a carta, peguei o tecido. Tecido turco, um dos melhores do mundo, macios como pó. Tomei coragem de ler e me sentei na cama.

“Querida Ana,
Esse início de carta se tornou um pouco poético, coisa que sei que te agradaria. Assim como te agrada observar o nascer do sol e tomar uma xícara de chá enrolada em um grosso cobertor assistindo suas séries favoritas enquanto a chuva cai. É, ainda sei seus gostos. Nunca os esqueci.
Sei que todos os pedidos de desculpas juntos não vão melhorar a mágoa que você deve ter de mim. Mas eu humildemente te peço desculpas. O fato das cartas não chegarem até você foi o desmoronamento total do plano que eu tinha. Você sabe bem que ser um grande engenheiro nunca foi meu plano para o futuro, como meu pai queria. Meu sonho mesmo era sair pelo mundo fotografando as belezas que Deus nos concedia. Com você a tiracolo. Mas não foi isso o que aconteceu.
Seu pai se ofereceu pra me dar certa quantia para eu poder fazer minhas primeiras viagens. Pensei em aceitar, as só até que ele me disse que eu teria que te deixar. Pensei que pudesse contorna-lo, mas não consegui fazer isso. Ainda não sei como você não as recebeu, coo ele conseguiu descobrir. Mas isso é passado e o passado é imutável.
Quanto ao seu casamento...  Não pensava em voltar, mas agora minhas ideias mudaram. Sinto sua falta.
Marcelo.”

-Voltar? –me peguei falando em voz alta- Por favor, não.
Estava desejando justamente o contrário do que eu queria por tantos anos.

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