Sessenta e Um


Depois de ler a carta, continuei a pensar. Agora finalmente, a maioria das coisas estavam a nosso favor. Bianca presa, mal entendidos desfeitos... Se o Marcelo voltasse, tudo se resumiria a um nada novamente. A única coisa que eu tinha de fazer era esquecer, ou ao menos fingir que esqueci. Guardaria aquela carta pra mim e só pra mim. Torcendo pra que algo o prendesse do outro lado do oceano. Minha vida com o Luan estava começando a dar certo, nada poderia atrapalhar a gente. Com certeza ele estava esperando que eu respondesse a carta ou lhe mandasse outro e-mail. Mas se eu fizesse isso, seria suicídio. Eu estava em um túnel, tendo que escolher para qual dos dois lados ir. O passado vinha atrás de mim na velocidade de um jato, e com ele, antigas sensações e dores. E à minha  frente estava o futuro, esperando que eu caminhasse até ele, sem me pedir pressa nem me forçar. Com ele estava a esperança. O maior sentimento do mundo, o que perdurava até o último suspiro.

Peguei a caixa e desci. Estava a tempo demais no quarto. Coloquei a caixa em cima do sofá e fui até a cozinha, onde estavam a Lívia, a Ester e o Maurício.
-Acho que já vou.
-Ah, não vai não. Finalmente a Ester cozinhou, e você não vai perder um milagre desses, não é? –Maurício disse e Ester mostrou a língua pra ele.
-Fica mana. Vou pra casa contigo e não quero ir agora. –Lívia me pediu.
-Tudo bem, eu fico. –disse e peguei meu celular e mandei uma mensagem pra Isa e para o Roberto.
“Marujos, precisamos de uma reunião.”
Depois de jantar, ficamos conversando um pouco e então eu e Lívia fomos pra casa. No caminho, ainda no carro, o celular dela chamou. Ela desligou.
-Alguém chato?
-Não é ninguém.
-Tá bom.
Quando eu fui dormir, a carta veio na minha mente novamente. Acho que não tive pesadelos naquela noite. Mas quando acordei, nada mais parecia em seu devido lugar. Por um instante, a casa parecia estar cheia de policiais novamente. Afastei esses pensamentos. Lívia saiu pra escola logo  depois de tomarmos o café da manhã  e eu fui me arrumar para voltar ao escritório. Estava um clima tenso lá.  A secretária me disse que meus pais tinham saído, cada um para um lugar diferente. Pedi para que ela me desse tudo o que estava planejado pra dali a duas semanas e entrei na sala. O Guilherme estava lá dentro com duas taças numa mão e refrigerante em outra.
-Prometo que trago champanhe da próxima vez.  –sorri e o abracei.
-Mas o que estamos comemorando?
-Seu casamento.
-Ah... Ok.
-Só isso?
-Isso o que?
-Ana... –ele se sentou na minha frente- Você realmente quer se casar com ele?
-Lógico que sim! –respondi quase que imediatamente- É outra coisa...
Contei a ele algumas partes da história, ocultando somente como as cartas não chegaram até a mim. A secretária entrou e colocou umas dez pastas em cima da mesa.
-Vamos trabalhar. –eu ri.

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