Setenta



Quando eu era criança, o Natal era a minha data preferida do ano. Mas depois isso mudou. O Natal era pra ser uma festa de reflexão e comemoração, não uma disputa de quem dá o presente mais caro.
Naquele ano, a reunião familiar seria na fazenda do meu tio materno mais velho. Pensa numa família grande. Agora triplica. Bem, a minha família era mais ou menos assim.  Eu tinha primos de segundo, terceiro, quarto grau (daí eu já não sabia se era mais primo), que iam estar lá.
Era manha da véspera de Natal. Eu havia dormido maravilhosamente bem e estava psicologicamente pronta pra discursos de meia hora e de muita gente falando de tudo o que havia acontecido desde o último Natal que a família da minha mãe passou quase toda junta. O meu pai era praticamente sozinho, por isso não se importava muito de onde ia passar essa data, desde que todas as filhas estivessem presentes. Mas a Ester não iria com a gente, o que fez ele ficar um pouco chateado.
Desci às sete. Fiz minhas higienes, me troquei e fui até a padaria. No caminha de volta, passei em uma banca de revistas. Sempre tive a mania de parar pra comprar as minhas preferidas. Meu olho bateu em uma de fofocas, que tinha escrito “O drama de Luan Santana – Saiba os verdadeiros motivos dos shows cancelados e do sumiço do cantor.” Peguei ela e mais umas três.
Quando cheguei em casa, fui pra cozinha e abri em cima da mesa. Li uma página inteira em um recorde de tempo. Resumindo o que estava lá era algo parecido com: cantor e noiva forma perseguidos por antigo affair de Luan. Os vários shows foram cancelados por recomendação da polícia. Durante esse tempo, um amigo da noiva do cantor foi baleado e morreu durante uma troca de tiros entre a perseguidora e a polícia.
Me sentei numa cadeira com as mãos no rosto. Lívia desceu.
-Oi.
-Oi. –respondi sem olha-la.
-O que aconteceu? –dei a revista pra ela.
-Hm. Eu acordei morrendo de fome. –ela mudou o assunto- Tá pronta pra nossas lindas, amorosas e carinhosas primas?
-Tem que estar né?
-Sabe a Luma?
-Não.
-Uma loira de nariz empinado que ria da minha cara porque eu era fã do Luan.
-Ah, acho que sim.
-Quero ver a cara dela agora. Vou dar uns duzentos beijos naquela cara linda. –rimos.
Tocaram o interfone e quando eu atendi, não disseram nada. Fui até a porta. Não tinha ninguém lá. Me deu medo de que fosse ela. Percebi uma caixa no pé da porta. Olhei ao redor e não tinha ninguém. Olhei para a caixa por alguns instantes e peguei. Estava embrulhado em papel de presente vermelho. Entrei em casa.
-O que é isso?
-Não sei. Alguém deixou na porta.
-Eu acho que eu... Vou instalar uma câmera, não me sinto tão segura, sabe?
-Abre.
Quando abri, rinha um cartão de Natal em cima de uma caixa de chocolates.
-Não vou nem pensar em comer isso. –peguei um cartão. Um simples “Feliz Natal”- Ah meu Deus!
-O que foi?
-Como ele descobriu meu endereço.

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